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Flores Mortas

 Flores Mortas




   Estaria tudo na mais pacífica quietude se não fosse pelos constantes murmúrios e soluços. A casa da família Barker, antes um antro de felicidade, encontrava-se inconsolavelmente imersa numa atmosfera de tristeza, revolta e culpa. Por que isso havia a acontecido justo com o maior motivo de alegria da família? Por que? Por que assim?
   Não havia absolutamente nada a ser dito, por mais que a garganta quisesse gritar. Mas é como dizem... No silêncio, residem milhares e milhares de gritos. Uma calada sinfonia mórbida, regada à dor e sofrimento por aquela que havia partido tão inesperadamente.
    Agora restavam-lhe apenas o silêncio acompanhado pelo gosto inebriante do café... que os manteria acordados o bastante para que a culpa consumisse seus corações, como um câncer.
   
   A porta rangeu, mas ninguém fez questão de olhar. Ninguém queria ser obrigado a ver o rosto daquele que havia sido desprezado e tão injustamente. Porque todos, sem exceção alguma, carregavam em seu coração alguma culpa pelo ocorrido. Pela morte da jovem Eleanora...


    “Você não é bom o bastante para ela”, apontou-lhe a velha.
    “Posso fazê-la feliz! Eu a amo, e amor é a maior dádiva do mundo... Uma bênção de Deus” dizia-lhe o moço, em tom de súplica.
     “Seu amor vai privá-la de uma boa vida, você é apenas o garoto da mercearia. Então, se a ama, terá que deixá-la ir” prosseguiu, totalmente ríspida. Seu tom, suas palavras feriam tanto ou mais que milhares de flechas de gelo...
   “E vai deixá-la viver infeliz com aquele crápula!?”  indagou, já não conseguindo conter com a mesma eficiência suas lágrimas.
    “Felicidade é algo que se aprende” cuspiu, “agora saia de nossa casa e nunca mais volte a pisar aqui...” prosseguiu, sem sequer dar tempo ao jovem para ao menos pensar numa resposta. 
    Antes da porta se fechar, pode ver uma última vez o belo rosto de sua amada. Os cabelos cor de mogno, os olhos verdes imersos em lágrimas que banhavam-lhe a bela face alva de bochechas rosadas...


   Trôpego, ele avançou sonsamente até próximo de ataúde. Deparou-se com aquele pequeno corpo rodeado por flores brancas... flores tão mortas quanto a moça cadavérica ali. Suas bochechas antes coradas apresentavam um tom terrível de mármore que contrastava mais terrivelmente ainda com seus finos lábios arroxeados. Curvou-se sobre o caixão com certa dificuldade e tocou-lhe gentilmente os lábios... Ela já estava tão fria quanto seu coração.
     - Como sentem-se agora? – resmungou o rapaz, após ter se virado para a família da moça. Levantou a garrafa de vinho, como quem propunha um brinde, e deu um longo gole. Seus olhos arderam, mas não era pelo álcool... eram só as lágrimas dessa vez. Outra vez.


    Haviam-na encontrado com os pulsos praticamente dilacerados pelo vidro da janela. Haviam-na confinado à um quarto dias antes de seu suicídio, pois encontrava-se num quadro grave de depressão. Não comia, não bebia e como ainda respirava era um mistério. Seu noivo havia abandonado-a após ter roubado-lhe todas as jóias, todos seus bens... inclusive sua pequena filha, Elizabeth, pela qual havia uma vez quase perdido a vida. E era pela pequena que seu quadro havia se agravado tanto.
    Em verdade, ela não havia ficado tão mal pela fuga acompanhada por roubo de seu noivo, pois soube desde o princípio que ele não era muito melhor que os saqueadores que conhecia. Tudo começou quando sua família disse-lhe que Gustav, homem por qual era apaixonada desde sempre - mas que teve de abrir mão pela sua pouca condição-, havia se suicidado após a notícia de seu casamento com o Barão. Uma mentira de conseqüências incalculáveis.
    - Amei-a como ninguém em todo o mundo seria capaz e ela amou-me com igualdade e irreverência... – murmurava cabisbaixo, o tom estrangulado que mal saia por entre seus lábios secos. 
     - Um brinde a família Barker, por escolher a conta bancária ao invés do coração...
      Não houve resposta... Sequer da mãe da moça. Ela apenas o fitava com os olhos vidrados, a boca entreaberta...
      - Imaginei que ninguém aceitaria, - começou a  rir de maneira compulsiva, alucinada – então tomei a liberdade de brindar antecipadamente – e fez uma leve menção à garrafa vazia de vinho que milésimos depois soltou, permitindo-a que se chocasse contra o chão. Aliás, espero que tenham gostado do açúcar que lhes entreguei mais cedo...
     Mas antes que pudesse prosseguir, a velha caiu no chão e começou a ter espasmos que iam se agravando mais e mais a cada segundo. 
     - Ah, sim, lembro-me bem de como a senhora gostava de açucarar as coisas, mesmo sendo tão amarga. Como eu ia dizendo, já ouviu falar de estricnina?
    Sentiu então o olhar de todos voltando-se para ele.  Estavam perplexos... Mas antes que pudessem ter alguma reação, pouco a pouco, foram caindo. Aquele som doentio das convulsões era música aos ouvidos de Gustav...
     Então ele virou-se para o caixão da amada. Pousou as mãos sobre as suas e com os olhos marejados, começou a sussurrar...
     - Tanta vida, tanto amor e nada pôde ser salvo... Eles fizeram-na levar tudo isso para o túmulo. Éramos um par de almas inteiras... e agora, restam-me apenas cacos e um borrão daquilo que um dia fomos. Estamos separados pelo muro da morte... – conforme ia tecendo sutilmente  uas palavras, ia retirando as mãos de sobre as dela... levando-as até o bolso interno do casaco. Não demorou-se e tirou dali um revólver... – você teve tanta coragem, minha pequena...  Oh, Eleanor... Com meu sangue encontrarei novamente seu amor... – e posicionou então o revólver contra a cabeça – já posso sentir na escuridão seus beijos sangrentos... – e, sem mais nenhuma palavra, puxou o gatilho.
   

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Foda-se.

Foda-se o que vão pensar, eu tô com medo. Medo de me machucar de novo e principalmente medo de te perder. Você tem noção de como é horrível estar ao seu lado e sequer poder segurar sua mão? Você tem noção do quanto machuca? Não sei se quero saber, honestamente. Foda é pedir todo dia pra que isso melhore e ver que absolutamente nada acontece, ninguém sai da cruz.

                                                                                       (BMPA)
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Thousand Years

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Fórmula do Amor e da Dor

  
  Foi amor à primeira vista. O distanciamento ideal de todos os meus problemas; a saída perfeita, a felicidade que até então eu nunca havia alcançado. Fui apresentado à ela numa festa, na casa de um amigo. Realmente foi amor à primeira vista, espontâneo e prazeroso.
      Impossível esquecer dos bons momentos que tivemos juntos. Cada riso, cada viagem... Cada tudo. Se não era a fórmula do puro amor, o que mais poderia ser? Eu nunca havia me sentido tão bem e completo em toda a minha vida. Cada momento chegávamos à ápices diferentes de um mix completo de felicidade, prazer e mais felicidade.
    Mas a felicidade aos poucos foi se tornando um pesadelo. Para tê-la comigo eu perdi tudo o que tinha e qualquer patrimônio que meus pais, com todo seu esforço e suor, haviam conseguido juntar em anos. Por ela eu perdi minha família. E, quando eu a perdi, me afundei numa tristeza tão intensa que me pergunto como ainda estou vivo... O que me faz perguntar por quanto tempo continuarei nessa.
     Aliás, eu lhe contei seu nome?
     Não? 
     Pois bem, ela se chama cocaína.

                                                                              (Beatriz M.)


E  foda-se você, 
que só consegue foder com a minha vida. ;)

Mas agradeço pela dor, me fez aprender. -Y-
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Pernilla - Icon for Hire



Eu não posso ajudar, mas fecho os olhos para a vida...
E o sonho com um final diferente.
Quando eu acordar não vou estar tão exausta,
e eu vou parar com o meu fingimento...
De que eu estou bem, 
estou bem se eu puder enganar a mim mesma hoje à noite.

As lágrimas não cessavam, exatamente como os soluços. No peito um dor latejante que parecia fazer seu coração rasgar o peito. Estava sozinha, outra vez. Mas por escolha própria. O que havia feito? Baixou o olhar e começou a contemplar a cena...

E minha mentira vai sufocar todos vocês...

No chão jaziam pedaços de boas memórias, picotadas, rasgadas, dilaceradas...

Você vai sangrar pelo que suas mãos têm feito,
você não pode fugir do seu final!
E eu ficarei bem muito antes de você se perder.

O que isso significava, afinal de contas? Não era pra estar sentindo-se realizada?
O que havia de errado?
Arrastou-se até a cama e puxou o lençol...
Lá estava ele. O rosto sereno, como se estivesse dormindo.
Sim, um repouso eterno...

Posso perdoar, mas você nunca vai...

Sentou-se ao lado dele, postando-se a vislumbrar a pele cor de mármore que o rapaz tinha. Seus lábios roxeados lhe chamavam a atenção de uma maneira tão mórbida...
Como o primeiro dia que se conheceram...
Como o dia em que ele destruiu sua vida.

Eu não me curvarei, até eu me quebrar.
De modo que possa ter o corpo machucado...
Ainda não é o bastante para me calar!
Você é apenas uma memória!
Eu vou gritar estas palavras até que se tornem realidade.
Então eu não vou pensar mais em você
Olho para trás, o que eu estou passando?
Esta não é a minha identidade...

Ainda se lembrava das palavras sussurradas, de cada mentira que lhe fora contada.
E isso não mudava...
Apenas acrescentava culpa. Culpa por ter acreditado, culpa por ter se permitido afundar.
Deitou-se então ao lado dele, a mão pousada sobre o congelado peitoral direito.
Quantas vezes não havia buscado conforto nele?

E eu te disse, 

Ela havia dado tudo o que tinha e ele apenas mentiras.
Ele a destruiu...

Eu te disse que você não tinha o direito, o quão você deve ter prejudicado!? 

E isso não parecia ser tão grande agora que já havia sido feito.
Deslizou então a mão até atingir o buraco de onde o líquido carmim tinha origem.
Tão frágil...
Um coração por outro.

Observe: é trágico entrar em pânico, você vai levar isso para toda vida... 

Um sorriso saudosista brotou nos lábios da jovem que virou-se para o criado-mudo. Apenas estendeu a mão, sentindo quase que imediatamente o frio metal do revólver...
O mesmo revólver que havia usado com ele.
“Juntos até a morte”, murmurou, praticamente colando-se ao cadáver do amado.
Então apontou a arma para a própria cabeça...

Você tem a minha compaixão.

E puxou o gatilho.
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Mentiras, Segredos e a Amizade.

Assistindo Pretty Little Liars, série com que eu me identifiquei muito, percebi que realmente são os segredos que mantém as amigas unidas. É a mais pura verdade. É uma confiança que, depois, acaba se transformando numa espécie de receio, medo... É confuso. Mas acho que é verídico. :)

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Esses dias.




Esses dias tem se tornado cada vez mais insuportáveis. Tenho me deparado sempre com algum buraco naquilo que um dia chamei de "estrutura". Minhas concepções estão ficando confusas, como se eu estivesse olhando-as através de um vidro embaçado. Não faço a mínima ideia do que é o certo e muito menos do que pode vir a ser errado. Se é que tem disso. Vejo a cada dia que passa as pessoas com quem eu já me importei se destruindo por coisas estúpidas. Realmente estúpidas. E é nesse ponto que começo a me perguntar se o amor não é apenas mais um fruto da imaginação humana, algo criado pra preencher um buraco que todos trazemos desde crianças em nosso peito. Mas aí eu começo a pensar... E a refletir sobre tudo que passei e estou passando por aquilo que acredito que seja amor. Não é perfeito, temos nossas diferenças, nossos conflitos. Mas estaremos sempre presentes. Isso não pode ser só uma necessidade... Não pode. É grande demais, é explícito demais. Se fosse apenas uma necessidade eu poderia ter escolhido qualquer pessoa. Coisa que não fiz. Eu não te escolhi. Simplesmente aconteceu. E foi a coisa inevitável mais maravilhosa que poderia ter acontecido, apesar das lágrimas. Por esses dias me peguei prestes a desistir. Qual seria a graça? A vida não é fácil, ninguém disse que seria. Problemas tornam as pessoas fortes e nos fazem ver o que é real ou não. No dia em que me vi preste a desistir, vi que não cai tantas vezes pra no final entregar os pontos por estar com medo. Por esses dias percebi que o medo é, na melhor descrição possível, uma barreira, pois ao mesmo tempo que nos protege nos impede de progredir. E hoje... Bom, hoje eu percebi que ao mesmo tempo foi o dia seguinte de ontem e o ontem de amanhã. O que quero dizer é... Algo específico pode não ser tão específico ao mesmo tempo, se olharmos de perspectivas diferentes.

                                                                                           (Beatriz M.)

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Esperança.



Aos poucos venho notando a vericidade contida nessas palavras. Esperança causa frustração, que causa tristeza... E tristeza mata. Pode não matar o corpo, mas envenena a alma pouco a pouco até não sobrar mais nada. Nenhum pedaço não-corrompido pra contar história. Honestamente? Bom, vou ser bem...Criativa na minha explicação a respeito da MINHA concepção, independente do motivo. Sabe aquela história que a esperança foi a única virtude que, quando Pandora abriu a famosa caixinha, não escapou? Mas que também tem a versão de que na caixinha havia alguns males onde a esperança, por algum motivo "errôneo" estava ali, em meio à tanta coisa ruim? Sempre que ouço a segunda versão, dão ênfase ao "quão errado" foi colocar algo tão belo em meio à tantos males. Eu discordo. Esperança mata... Não da maneira que um revólver carregado é capaz de fazer, é óbvio. Como eu disse, ela mata por dentro, pouco a apouco. Então não acho que foi tão... "errado". Mas, enfim, isso não importa. Não mais.

                                                                                               (Beatriz M.)
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Mentiras.


   Não sei mais se quero abrir os olhos pra ver. Porque, sempre quando eu o faço, me deparo com uma realidade mesquinha ao meu redor. E isso machuca. Machuca mais do que eu realmente gostaria de suportar. Mas não há muita escolha a não ser continuar lutando, aguentando, enfrentando... ou seja lá o que estou fazendo. Se é que estou fazendo. Pra ser totalmente honesta não sei se estou somente fugindo de meus problemas... mesmo sabendo que, quando eu voltar, eles estarão lá, me esperando para poder sufocar outra vez. Mesmo sendo exatamente o tipo de pessoa que busca soluções práticas para qualquer tipo de problema externo, me perco completamente quando o assunto se torna mais pessoal. Porque sei que com isso não estou ferindo somente à mim, mas também pessoas com quem eu realmente me importo. O que me faz questionar todos dias ao acordar que tipo de pessoa patética e egoísta sou eu. Se eu desse um fim nisso tudo, toda a dor iria embora, como num passe de mágica. Mas creio que isso machucaria as pessoas com quem eu teria me importado... mas, por ter escolhido uma solução mais prática e rápida, não o suficiente a ponto de conseguir ser um pouco empática e me colocar no lugar dessas pessoas. Mas, agora me pergunto... E se esse tempo todo elas estiverem sendo empáticas também? Sentirem a dor que eu sinto? Não seria egoísmo demais permiti-las viver nesse antro sufocante? A questão é que: nesse mundo em que eu fui enfiada, não dá pra ser totalmente honesta, justa e menos egoísta. Alguém sempre vai perder. E essa é a única coisa justa aqui.
                                                 
                                                                                     (Beatriz M.)



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Eu sei.

                                                                   I don't know what we are,
                                                                 or what we'll ever be...


Eu sei que eu deveria me afastar. Eu sei que se eu ficar por mais tempo vou acabar criando cicatrizes maiores ainda. Eu sei, e pode não acreditar, mas eu me importo. Lamento imensamente o fato de não termos dado certo, com certeza, mas isso não justifica esse sadismo. Sadismo e masoquismo. Sadismo porque, não sei, talvez pelo motivo de eu ainda sentir algo que não consigo classificar como bom ou ruim, porque te machuca de todas as formas possíveis. E masoquismo porque, por mais que doa e te faça sangrar, você continua buscando. É ridículo esse vínculo que acabamos criando. Você e eu sabemos perfeitamente disso. Me pergunto se a questão é destruir tudo, transformar isso em ódio. Assim todo o processo de separação seria mais fácil. Porque a cada dia que ele se passa vejo o quão necessário é. E você sabe disso, também. Você sempre foi crente, crente que eu não era mais um monstro, crente que eu poderia ser melhor. Você acreditou em mim. E eu agradeço isso. Mas eu preciso te deixar ir, seria uma espécie de agradecimento meu por tudo.


                                                                    I dont know who we are,
                                                                  or what this means.


                                                             (Beatriz M.)